Endometriose no show da vida

9 dez
 

O Drauzio Varella quando está na televisão é um jornalista. Ele noticia o que está acontecendo no mundo e, porque trabalha em grande veículo, vai “na onda”. E a onda das matérias sobre saúde é assustar a população (“a onda” dos médicos, em geral, é assustar os indivíduos, um por um). Na matéria que fez sobre endometriose no domingo dia 8/12/13 ele repetiu este mantra (http://g1.globo.com/fantastico/quadros/mulher-saude-intima/noticia/2013/12/endometriose-atinge-10-das-brasileiras-em-idade-reprodutiva.html). O que agrava é a reputaçã0 de médico e a quantidade de pessoas atingidas.

O maior problema da matéria foi confundir sintoma (dor pélvica) com doença (endometriose) dando a impressão que se trata da mesma coisa. Ele diz que a prevalência de endometriose é de 10%. De fato os estudos estimam que aproximadamente 10% das mulheres em idade fértil têm endometriose. Porém, os estudos de incidência muitas vezes têm o viés intelectual (foi um especialista na área quem conduziu), carecem de validade externa (foi realizado em outro local com outra população) e não raramente tem viés de seleção (pesquisa em população de pacientes internadas, ou seja, de maior risco).

Mesmo que seja 10%, há grande possibilidade de sobrediagnóstico, ou seja, muitas mulheres podem ter endometriose e esta ser indolente e não causar danos. Assim, os estudos de incidência vão buscar pessoas com ou sem sintomas. Não se deve repetir isso no dia a dia para se descobrir todas as 10% de mulheres que tem endometriose e esta não causa nenhum sintoma. Ao mesmo tempo, se alguma mulher tiver uma dor pélvica pela primeira vez hoje e, por causa da reportagem, ir pesquisar endometriose com um especialista no assunto, pode achar um problema que não era na verdade o responsável por sua dor.

Dor pélvica é um tema complexo por que envolve muitos órgãos e não se pode confundir o sintoma com uma doença que raramente causa a disfunção que causou na paciente que foi usada como exemplo. Aquele caso é raro, embora o sintoma seja frequente e a doença com uma prevalência relativamente alta sendo que em muitas mulheres não causa tanta dor ou disfunção tornando a intervenção com mais risco que benefício. Também é importante lembrar que a doença regride após a menopausa.

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