Nos países organizados, nas palavras do Ministro Joaquim Barbosa (http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/julgamento-do-mensalao/noticias/0,,OI6149358-EI20760,00-Barbosa+critica+delegado+e+causa+nova+discussao+com+revisor.html), não é atribuição dos especialistas focais a prevenção secundária (“check up”). Isto porque o risco de caírem no que hoje se chama mercantilização da doença ou “disease mongering” é enorme, além do paciente ter que ir em incontáveis profissionais já que cada um cuida de uma pequena parte.
O programa sobre câncer de mama do canal futura deu um exemplo disso: http://www.conexaofutura.org.br/?s=cancer+de+mama . Como é possível notar o mastologista se comporta, provavelmente de forma involuntaria, mais como um “vendedor ” de câncer de mama do que como médico. Entre os minutos 2:15 e 3:00 isso fica mais claro. O risco de especialistas se submeterem a mercantilização da doença é grande porque prevenção deve ser individualizada e focada nos riscos de cada pessoa e não em uma doença especificamente.
Aos 13:10 o jornalista faz um intervenção que esclarece que a paciente convidada tinha grande risco familiar. Desta forma, como a pessoa tem risco aumentado, levar este exemplo ajuda a assustar a população. Ou seja, não é uma “representante da média da população”. Casos como este ficam no limbo entre mamografia diagnóstica e de rastreamento e mesmo que seja de rastreamento é uma situação diferente da vivida pela maioria das mulheres. Durante o programa o profissional do INCA que estava ao telefone tenta qualificar a discussão com informações de fato ponderadas e relevantes. Aos 22:50 ele finalmente esclarece a diferença entre mamografia diagnóstica e de rastreamento, informação negligenciada pelo mastologista.
A mamografia tem sido bastante estudada como método de rastreamento (quando não há risco aumentado nem sintomas) e seu benefício está comprovado caso se faça a cada dois anos dos 50 aos 74 (http://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/uspsbrca.htm). Antes desta faixa etária os estudos são conflituosos e há grande risco de sobrediagnóstico, ou seja, diagnósticos e tratamentos sem diminuição da mortalidade. A figura do artigo do Ray Moynihan (http://www.bmj.com/content/344/bmj.e3502?ijkey=tzRK2ncLto2JJ9I&keytype=ref) é bastante clara neste sentido: ao longo do tempo aumentou o diagnóstico de câncer de mama para pouca diminuição da mortalidade. Após os 75 anos as evidências são insuficientes para se recomendar mamografia de rotina pois aumentam mais as chances de o dano ser maior que o benefício. A excesão está nos casos de risco aumentado, como a paciente do programa, quando de fato o rastreamento por mamografia ou ultrassom deve ser antecipado aos 35 anos e, claro, quando se tem sintomas e a mamografia passa a se chamar diagnóstica.
Ainda há o risco de falso positivo e estima-se que após 10 mamografias mais da metade das mulheres terão pelo menos um falso positivo (http://jnci.oxfordjournals.org/content/92/20/1657.long)
Por fim, o outubro rosa é uma iniciativa financiada pela Roche (http://www.mulherconsciente.com.br/ – logo na parte inferior esquerda – e http://saude.terra.com.br/interna/0,,OI4024258-EI1497,00-Outubro+Rosa+promove+acoes+contra+o+cancer+de+mama.html) que fabrica diversos medicamentos para o câncer de mama. Ou seja, não é uma iniciativa sem conflitos de interesse.
Para cada mulher, para cada ser humano, deve-se traçar uma estratégia preventiva individualizada. Às vezes a mamografia é a prioridade mas às vezes é parar de fumar, diminuir o consumo de álcool e outras drogas, fazer atividade física, melhorar alimentação, etc.. Como é possível ver no mapa http://www.time.com/time/interactive/0,31813,1668275,00.html o câncer de mama é mais prevalente nos países desenvolvidos, ou seja, não é algo a ser temido. Pode significar que as pessoas estejam vivendo mais.